quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

1555 - Estabelecimento da França Antártica - Capítulo I

1555 —Expedição franceza debaixo da direcção de Nicolao Durand de Villegagnon.

Em quanto a feroz superstição de huma corte corrompida e dissoluta condenava ao fogo, ou fazia matar a ferro milhares de Francezes em razão de sua crença religiosa, cujos bens a iniquidade dos magistrados confiscava, o almirante Gaspar de Coligny, hum dos principaes chefes protestantes, attendendo ao que os viajantes contavão da fertilidade do Brasil, esperou achar naquella região hum asylo onde poderião refugiar-se os protestantes francezes afim de escaparem á perseguição. Com este fito deo aVillegagnon, vice-almirante de Bretanha, habil e intrepido oífícial de marinha, tres navios, cada hum de 200 toneladas, e 10:000 francos para os gastos da viagem, havendo obtido do rei Henrique II licença para estabelecer huma colonia no Brasil.

Villegagnon partio do Havre de Grace, a ia de Julho i555, acompanhado de alguns cavalheiros, e de soldados e artifices. Hum temporal o obrigou a arribar a Dieppe onde parte dos companheiros abandonarão a expedição. Fez-se de novo á vela a 14 de Agosto, passou pelas Canarias, chegou a 8 de Septembro ao Cabo Verde, e depois de huma dilatada viagem aportou a i3de Novembro a huma pequena ilha na emboccadura do Ganabara (Rio de Janeiro ), d'onde a força da maré o fez sahir, e foi demandar outra ilha deserta de 600 passos de largo e perto de huma milha de circuito rodeada de cachopos á flor d'agua, de maneira que ainda na enchente da maré, os navios não podião avizinhar-se mais que a tiro de canhão. Só pequena» barcas podião abordà-la por huma abertura de difficil accesso, que lhe servia de porto. Alli levantou hum forte, que denominou de Coligny, destinado a proteger os colonos contra os Portuguezes e os indigenas, e tomou posse de todo o continente, a que poz o nome de França antarctica.

Não tinha mais de 80 homens, que alojou em cabanas por elles construidas, e ajudados dos índios attrahidos por alguns presentes. No meio da ilha sobre hum rochedo de 5o a 6o pés de elevação estabeleceo a sua residencia, e fez construir armazens e hum templo. A casa principal era em parte feita de madeira, e protegida por hum recinto de alvenaria. Foi facil a Villegagnon estabelecer relações amigaveis com a tribu de indigenas que habitava aquella costa e erão mui adversos aos Portuguezes. Tinha trazido para lhe servir de interprete hum marinheiro normando, que havendo naufragado na costa du Brasil com outros compatriotas, tinha vivido entre os selvagens, aprendido a lingua d'elles, e passados alguns annos tinha voltado a França. Por meio d'elle e dos outros Francezes que vivião em boa harmonia entre os selvagens, se estabelecerão relações de amizade. Mas o nimio rigor e escrupulo religioso do chefe calvinista lhe fez perder estas inappreciaveis vantagens, e o expoz a hum perigo de que só escapou por fortuna. Sabendo Villegagnon que o interprete normando vivia com huma lndia, ordenou-lhe que se separasse d'ella, ou que a tomasse por mulher. O malvado, para se viu
gar do chefe, ordio huma conjuração com trinta dos colonos mercenarios e alguns dos Francezes que vivião entre os selvagens, para matar Villegagnon e toda a sua gente.

Tres Escocezes que servião de guardas ao chefe, lhe descobrirão o plano da conspiração que foi assim mallograda. Tres dos conspiradores forão enforcados, outros reduzidos á condição de escravos ; mas o autor do infame projecto escapou a nado e foi excitar os selvagens contra os Francezes, persuadindo aos primeiros que toda a gente do forte estava contaminada de huma epidemia que infallivelmente communicarião aos indigenas se estes não interrompessem toda a communicação com elles.


Fonte: Historia do Brasil, desde o seu descobrimento por Pedro Alvares Cabral até a abdicação de Dom Pedro I.
Por Francisco Solano Constancio, 1839.

1583 - Guerra dos Portugueses com potiguares na Paraíba

Os Petiguares que occupavão o territorio situado entre os rios Paralba e o RioGrande, continuarão as suas hostilidades contra os Portuguezes, auxiliados pelos Francezes que vinhão a estas paragens carregar pao de tinturaria. O novo governador da Bahia, Manoel Telles Barreto, mandou hum corpo de gente armada ás ordens do capitão Fructuoso Barbosa, para formar hum estabelecimento no porto de Paraiba e fortificâ-lo, mas não o poude eífectuar, tendo perdido parte da gente em huma emboscada, e havendo o resto fugido. Ao mesmo tempo, os habitantes de Pernambuco e de Itamaracá pedião com instancia auxilios ao Governador contra os ataques dos Indios.

O general Diogo Flores de Valdez achava-se então na Bahia com seis navios, mais que voltavão de Goa commandados por Diogo Vaz da Veiga. O Governador ordenou a Flores que conduzisse esta esquadra á Paraíba, e o ouvidor geral Martim Carvalho foi encarregado de prover a fragata de gente e de viveres. Flores partio para o seu destino, e hum corpo de tropas, em que ião muitos escravos, marchou por terra ás ordens do capitão Fructuoso Barbosa. Apenas a esquadra appareceo na barra da Paraíba, os Francezes se tornárão a embarcar.

Alguns autores affirmão que elles queimarão quatro dos seus navios, e se refugiarão no interior entre os indigenas. Para evitar novos desembarques fez o almirante construir hum forte de terra e madeira, em que deixou huma guarnição de cem homens commandados pelo capitão Francisco Castrejon. Este oficial hespanhol tendo recusado reconhecer por chefe a Barbosa , este voltou á Bahia. Castrejon , depois de ter sustentado diversos combates com os índios, se vio obrigado a abandonar o forte, retirando-se por terra á capitania de Itamaracá.

Durante a sua marcha de dezoito legoas, perdeo alguns homens e mulheres, que cahirão de cansaço. Os habitantes de Pernambuco informados deste desastre, expedirão outro corpo de tropas bem provido de armas e munições, commandado pelo capitão Fructuoso Barbosa, o qual ajudado pelos Tupinambas, retomou o forte e fundou em torno d'elle huma povoação, a que em i585 se deoo nome de cidade denominada Filippéa.

Fonte:
Historia do Brasil, desde o seu descobrimento por Pedro Alvares Cabral até a abdicação de Dom Pedro I.
Por Francisco Solano Constancio, 1839.

domingo, 31 de outubro de 2010

Naufrágio e falência na tentativa de povoação da Capitania do Rio Grande

Texto retirado do livro História do Brasil do Frei Vicente do Salvador, escrito em 20 de dezembro de 1627.

Partida de Portugal:

No fim das 25 léguas da terra da capitania de Itamaracá, que el-rei doou a Pero Lopes de Souza, doou, e fez mercê a João de Barros, feitor, que foi da casa da Índia, de 50 léguas por costa; o qual cuidando de se aproveitar a si e a seus amigos, armou com Fernand’Álvares de Andrade, tesoureiro-mor do reino, e Aires da Cunha, que veio por capitão da empresa, mandando com ele dois filhos seus em uma frota de 10 navios, em que vinham 900 homens, e com todo o necessário.


Naufrágio e Mestiçagem com índios do Maranhão:


Deste naufrágio escapou muita gente, com a qual os filhos de João de Barros se recolheram auma ilha, que então se chamava das Vacas, e agora de São Luiz, donde fizeram pazes com o gentio tapuia, que então ali habitava, resgatando mantimentos, e outras coisas, que lhes eram necessárias: e chegou o trato e amizade a tanto que alguns houveram filhos das Tapuias, como se descobriu depois que cresceram, não só porque barbaram, e barbam ainda hoje todos os seus descendentes, como seus pais e avós, senão pelo amor que têm aos portugueses em tanta maneira, que nunca jamais quiseram paz com os outros gentios, nem com os franceses, dizendo que aqueles não eram verdadeiros Peros / que assim chamam aos portugueses, parece por respeito de algum que se chamava Pedro / e, todavia, quando na era de 614 entraram os nossos no Maranhão, logo os vieram ver, e fazer pazes com eles, dizendo que estes eram os seus Peros desejados, de que eles descendiam.

Falência do donatário sem povoação:


João Terceiro fez das capitanias na província de Santa Cruz, que comumente se chama do Brasil, lhe coube uma, a qual lhe custou muita substância de fazenda, por razão de uma armada, que fez em companhia de Aires da Cunha / et cetera, / que é a armada / como temos dito / que arribou, e se foi perder no Maranhão, e daí mandou depois em outros navios buscar seus filhos, donde ficou tão pobre, e endividado, que não pôde mais povoar a sua terra, a qual já agora é de Sua Majestade, por cujo mandado depois se conquistou, e se ganhou ao gentio Potiguar à custa de sua real fazenda.